Homenagem merecida

Algumas pessoas merecem ser esquecidas e a mídia insiste em trazê-las à tona o tempo todo enquanto infelizmente algumas outras pessoas merecem ser lembradas sempre e simplesmente nem são conhecidas. Por exemplo:

Você conhece Adélia Prado?


Por acaso você sabia que ela fez aniversário dia 13/12? Mas e daí?!

Daí que essa não é qualquer mulher, é uma grande escritora. Seus poemas são tão simples e profundos que te prende do começo ao fim. São pessoas assim que deveriam ser lembradas.

Segundo Carlos Drummond de Andrade: “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis”.

Se um homem desses remeteu tal elogio deve ser por algum motivo. Não merece nossa atenção ao menos um pouquinho?! Quer ler um poema dela? Olha só esse:

Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.”



Seus primeiros versos foram escritos em 1950, e de lá para cá ela vem presenteando o mundo com suas palavras. Mulher simples, tradicional que gostava de falar sobre tudo. Tinha opinião e coragem. O que mais gosto em sua escrita é a simplicidade com que trata as coisas, as palavras comuns, os pensamentos leves e também o carinho que tem pela família. Após a morte dos pais escreveu esse poema:

Poema Esquisito

Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.
Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.
Ninguém tem culpa. Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,
não existe mais o modo de eles terem seus olhos sobre mim.
Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos?
É dentro de mim que eles estão.
Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.
Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,
que abunda nos cemitérios.
Quem plantou foi o vento, a água da chuva.
Quem vai matar é o sol.
Passou finados não fui lá, aniversário também não.
Pra quê, se pra chorar qualquer lugar me cabe?
É de tanto lembrá-los que eu não vou.
Ôôôô pai
Ôôôô mãe
Dentro de mim eles respondem
tenazes e duros
porque o zelo do espírito é sem meiguices:
Ôôôôi fia.”

Enfim, Senhora Adélia, aqui no meu blog você tem seu merecido momento de fama. Façamos isso mais vezes. Vamos dar valor no que merece que o mundo só tem a ganhar.

Excelente dia a todos.

13 comentários

  1. Bonito o poema!

    Sabe, os valores estão invertidos, faz tempo!

    Beijocas

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  2. Relevante homenagem!

    Gosto muito dela e da Cora Coralina! Fazem da simplicidade uma obra de arte!

    Beijosssssssssssss

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  3. Camila, bela homenagem você fez à essa grande escritora. De fato, Adélia Prado nos presenteou com o seu jeito simples de escrever. Sem rebuscamentos, seus poemas falam da vida com muita serenidade, acho que foi por aí que ela fez de mim uma leitora voraz de tudo que escreveu.

    Beijos

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  4. Homenagem mais que merecida! Adorei o post e mais ainda o poema casamento, que eu não conhecia. Lindissimo! Beijo!

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  5. Ah, Adélia... Excelente post p/ embalar essa tarde... Amei!
    Adoro ela...
    bjs Cami querida!

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  6. grande adélia prado. beijos, pedrita

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  7. Legal Camilinha! Grande homenagem a sua!

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  8. Camilinha, você acha que num mundo tomado por mulheres frutas e UFC, há espaço para Drummonds e Adélias? Até há, mas eles estão espremidinhos, resistentes, sublimes... Viva a poesia, todo dia!

    Que poema lindo e forte esse dos pais, né?
    Obrigada por compartilhar, moça querida.
    Beijo!

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  9. Ela realmente merece ser lembrada por muitas vezes! Adoro seu poemas.
    Bom domingo :X

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  10. Amei, amo a beleza
    Tropecei muita vez na incerteza
    Transformei miséria em realeza
    Ri de contente e de tristeza

    Ri para os olhos que me deram amor
    Ri para o mar onde pesquei ilusões
    Ri em cada partida e chegada
    Que fiz numa vida de contradições

    Procurei o segredo da verdade feliz
    Percorri o caminho do vento cheio de ardor
    Uma gaivota entregou-me uma concha cheia de mar
    Era…O Elixir do Amor…

    Um mágico Natal

    Abraço-te

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  11. Adélia é e sempre será uma diva!

    Adoro!

    E concordo contigo também quando diz que algumas pessoas, escritores, no caso, deveriam cair no esquecimento. Tem uma que eu não aguento mais ver citada pelos blogs, só prega a infelicidade, a reclamação, a amargura...E o pior é que tem uma legião de fãs adolescentes, está formando uma geração de mal amadas feito ela.

    Uma lástima!

    =\

    Beijos, Camila.

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