Doze anos de escravidão - Filme x Livro


Fugi da minha meta e assisti ao filme Doze anos de Escravidão esses dias, bem depois do Oscar e antes de ler o livro – Algo que eu NUNCA faço. É uma obra magnífica que me fez derramar lágrimas e partiu meu coração em mil pedaços.

A adaptação tinha tudo para dar certo desde o começo, pois contava com  excelente ator Chiwetel Ejiofor como protagonista e foi dirigido por Steve McQueen. Ganhou o Oscar de Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong’o) e Melhor Roteiro Adaptado e foi mesmo o sucesso esperado e tão merecido.

A obra foi escrita pelo próprio Solomon Northup, que contou a sua historia a partir do momento que foi sequestrado e escravizado por doze anos.

Um homem integro, que conservava a fé em Deus, mas que chegou a se questionar, assim como eu durante a leitura, o porque dEle permitir tanta barbaridade.

"-Oh, Deus. Tende piedade do pobre escravo — não me deixeis perecer. Se vós não me protegerdes, estou perdido — perdido... E continua: "... Mas não havia nenhuma voz em resposta — nenhum tom baixo e doce descendo das alturas, sussurrando para minha alma. “Sou eu, não tenha medo.” Eu era o esquecido por Deus, parecia — o desprezado e odiado pelos homens!" - Solomon

Veja bem, ser escravizado já é desumano ao extremo, mas sequestrar um homem livre, que tinha filhos e esposa e obriga-lo a assumir outra identidade, está simplesmente fora do limite de entendimento.

Terminei de assistir ao filme e só conseguia agradecer por não ter vivido naquela época, por não ter passado por aquela situação tão pavorosa e desumana.

Dois dias depois a história ainda estava na minha cabeça. Esse é o tipo de obra que te prende a atenção sabe? Te faz pensar, lamentar e se revoltar. Senti-me ligada àquilo de uma forma muito intensa.



Então a Companhia das Letras liberou um trecho do livro (AQUI) e eu resolvi ler, já que estava secretamente obcecada pela escravidão, pesquisando tudo que podia em livros.

Li o trecho, que se você ler também,  vai entender o motivo que me deixou ainda mais presa. Eu precisava ler aquele livro. Comprei a obra e dois dias depois já havia a devorado. Eu conseguia naquele momento, ler e imaginar os atores e todo aquele cenário a minha frente, foi muito intenso e me tocou profundamente.

Salomon se mostrava indignado com a própria sorte em diversos trechos do livro - que é profundamente mais detalhado que o filme – contava situações mais extremas como fugas e castigos absurdos.


"Realmente, era difícil determinar o que eu deveria temer mais — cachorros, crocodilos ou homens!" - Solomon

Peguei-me novamente pesquisando sobre escravidão,  queria saber que subterfúgios os negros usavam para seguir com sua vida. Como suportavam tudo aqui, eu queria vingança por eles, queria entender porque raios, um ser humano faz isso a outro. Como eles viviam, o que os fazia sorrir, o que eles mais gostavam.

Como suportavam seus "donos" e suas verdades distorcidas da Bíblia que eles cuspiam aos domingos, como essa do trecho a seguir dito pelo último dono de Solomon:


“O negro que não toma cuidado — que não obedece a seu senhor — seu mestre — estão vendo? —, esse negro deve ser açoitado com muitos golpes. Agora, ‘muitos’ significa um grande número — quarenta, cem, cento e cinquenta chibatadas. Assim é que é!” – Ultimo “Senhor” de Solomon

Solomon foi um homem incrível que levou ajuda a quem ele podia mesmo estando ele próprio no verdadeiro inferno. As pessoas próximas a ele provavelmente sentiram algum tipo de reconforto com suas atitudes. Senti-me agradecia a ele sem mesmo ter estado lá. 

Senti-me confusa quanto aos senhores de escravos e principalmente às suas esposas. A maldade que desprendia deles era absoluta e até mesmo quando eram bons, me soavam desumanos, como nesse trecho:

"Um pouco de gentileza seria muito mais eficaz para cativá-los e torná-los obedientes do que o uso dessas armas mortais." – Mr. Ford (O Senhor que Solomon mais gostava).

O livro fez com que o filme ficasse pequeno e pobre - e foi uma adaptação magnífica hein?! - pois contou outras passagens e nos transportou muitas vezes para dentro da cabeça de Solomon, que era exatamente onde eu queria estar. 

" Enganam-se aqueles que dizem que o escravo ignorante e sem estudo não tem ideia da magnitude das injustiças a que é submetido." - Solomon

Seus desejos e anseios eram ditos em voz alta ali nas páginas. Todo o temor que ele sentia ao ver seus "donos" se aproximando gritavam em frases fortes e palavras pesadas. Muitas vezes ele pedia desculpa porque precisava ser sincero nas próximas páginas e eu me pegava respondendo:

- Solomon, me conte tudo!

Há muito tempo não leio nada igual. Há muito tempo não me pego pensando em seus personagens por dias após o término da leitura. A leitura desse livro entrará para a grade escolar nos Estados Unidos e deveria acontecer o mesmo aqui. É uma lição de história e de humanidade que deveria ser melhor aproveitada pelos colégios. 

O mesmo que aconteceu com ele, nos Estados Unidos, aconteceu aqui também, com diversos negros. Solomon teve sorte, foi um dos poucos sequestrados que conseguiram reaver sua liberdade. A maioria morreu sem se sentir livre novamente.

E agora chegamos a Petsy, interpretada por uma linda jovem negra que conquistou tantas pessoas e só fez pesar ainda mais a historia dessa mulher.


"Se algum dia houve um coração partido — um coração esmagado e arruinado pelo jugo rude da má fortuna e do sofrimento — foi o coração de Patsey." - Solomon

Para finalizar, eu quero deixar um pequeno desabafo aqui: Eu entendo que Solomon estivesse querendo sumir daquela fazenda. Quando resgatado ele fez tudo o mais rápido possível para encontrar sua liberdade e não olhou para trás, mas e Petsy?



Meu Deus,  o que aconteceu com ela? Me perguntei mil vezes isso... O livro é real, portanto nunca saberemos. Se fosse ficção eu imaginaria e até escreveria um final bem bonito para ela, mas Petsy existiu e provavelmente morreu levando chibatadas sonhando com uma liberdade que nunca conheceu. Eu espero do fundo do coração que ele tenha tido um infarto fulminante. Que tenho tido uma morte rápida e tranquila. Eu espero isso, eu torço por isso, até agora!


"... Que tudo isso tenha acontecido na cara do Capitólio dos Estados Unidos — que, algemado, Northup tenha sido levado pela mesma Pennsylvania Avenue onde, apenas cem anos depois, o Dr. King seria ouvido dando seu discurso “Eu tenho um sonho”, algumas décadas antes do presidente Barack Obama e sua mulher, Michelle, desfilarem na esperança de realizar esse sonho —, deve ter dado à odisseia imposta a Northup um gosto ainda mais amargo. “Só posso comparar meus sofrimentos,” ele relembra, do primeiro açoite que recebeu, “às agonias flamejantes do inferno!”." - HENRY LOUIS GATES JR.

É um livro incrível e a adaptação é de arrancar lágrimas. Vale muita a pena conhecer a história de Solomon.

7 comentários

  1. Vou agora mesmo ler o trecho que a editora disponibilizou, Camila. Também gostei demais do filme. Beijos!

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  2. Camila, eu tb prefiro ler o livro antes de assistir ao filme, mas como minha lista de espera está muito grande, acho que desta vez vou apenas assistir.
    Belo post!
    Abraço,
    Jussara - minasdemim

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  3. Irei ver com certeza fiquei curioso demais beijinhos Camila

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  4. Camila, passar por aqui é colocar mais um livro ou filme na listinha, rsrs.

    Beijos

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  5. Camila, sei bem como é ficar com essas histórias presas na cabeça. Nesse ponto, posso até me considerar covarde, porque evito ler ou assistir certos tipos de narrativa que possam vir a me chocar demais. Domingo assisti um filme que tô com ele na cabeça até hoje, O mordomo da Casa Branca, e fala sobre a luta dos negros americanos em busca de igualdade de direitos... juro por Deus, que até hoje tenho um sentimento de revolta quando lembro desse filme... simplesmente por não querer crer que o ser humano é tão ignorante e brutal... A realidade é triste demais!

    Bjs


    www.digoporai.com

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  6. oi Camis,

    todo mundo falou muito bem desse filme,
    mas ando evitando os dramas que me fazem chorar...

    beijinhos

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  7. A história da humanidade é cheia de exemplos bárbaros de escravidão. Pessoas arrancadas de suas famílias e submetidas a condições que nenhum animal merece ser colocado. Vou também ler o trecho do livro que você disponibilizou no link. Obrigada, Camila. Um abraço grande!

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