Alguns livros já chegam com uma carga negativa para quem se aventura no mundo da literatura. Geralmente isso acontece com os clássicos que são tristemente tachados de difíceis ou cansativos e na maioria das vezes isso não é verdade.
Obviamente que eu entendo que cada livro exige certo nível de maturidade do leitor para que sua experiência seja vivida da forma mais plena possível, mas nenhuma obra é impossível. Lavoura Arcaica foi um desses pra mim.
Sinopse: Lavoura arcaica é um texto onde se entrelaçam o novelesco e o lírico, através de um narrador em primeira pessoa, André, o filho encarregado de revelar o avesso de sua própria imagem e, consequentemente, o avesso da imagem da família. Lavoura arcaica é sobretudo uma aventura com a linguagem: além de fundar a narrativa, a linguagem é também o instrumento que, com seu rigor, desorganiza um outro rigor, o das verdades pensadas como irremovíveis. Lançado em dezembro de 1975, Lavoura arcaica foi imediatamente considerado um clássico, "uma revelação, dessas que marcam a história da nossa prosa narrativa", segundo o professor e crítico Alfredo Bosi.
O que acontece com esse livro? É narrado em primeira pessoa por um rapaz completamente transtornado. Pensa na confusão que é, mas... A escrita de Raduan Nassar é simplesmente impecável. Ele mescla o texto pesado e chocante com descrições poéticas tão sublimes que o ato mais repugnante se torna belo. Acredito que a história é tão interessante quanto a escrita é atraente.
Tudo começa com André recebendo seu irmão Pedro em um quarto de hotel em que ele se hospedou ao fugir de casa. Acontece que o rapaz carrega dentro de si algo muito forte que o impede de simplesmente voltar e é isso que vemos nas primeiras paginas: Esse conflito tão profundo e medonho que atravanca seus pensamentos.
“Não se pode esperar de um prisioneiro que sirva de boa vontade na casa do carcereiro; da mesma forma, pai, de quem amputamos os membros, seria absurdo exigir um abraço de afeto; maior despropósito que isso só mesmo a vileza do aleijão que, na falta das mãos, recorre aos pés para aplaudir o seu algoz; age quem sabe com a paciência proverbial de um boi: além do peso da canga, pede que lhe apertem o pescoço entre os canzis. Fica mais feio o feio que consente o belo.”
Nesse ponto o leitor mais despreparado pode achar o livro um pouco complexo, mas conforme o tempo vai passando e André vai conseguindo se expressão e colocar para fora tudo que sente, a escrita acompanha essa clareza e as coisas começam a fazer mais sentido.
O irmão (assim como o leitor) não entende direito o que o fez tomar essa atitude e mantém os argumentos rudes do pai. Isso piora ainda mais a situação porque esse é um dos motivos que impulsionou André a tomar seu rumo para longe de casa. Além dessa rotina brutal que o pai impunha aos filhos e também as obrigações de trabalho que nada interessavam ao rapaz nasce dentro dele um amor muito profundo por ninguém menos do que sua própria irmã.
Sim, é um livro que te tira do conforto. É complicado ler sobre o amor belo e puro de um rapaz quando este é incestuoso. É tão bem descrito e tão poético que dás um nó na cabeça da gente e o final é outro petardo!
Diante disso nos espanta saber que Raduan Nassar abandonou essa carreira tão rica e promissora para se dedicar exclusivamente às atividades rurais. #VoltaRaduan
Recomendo muito essa leitura. Aproveita e compra o livro AQUI NA AMAZON!
Esse livro está na minha lista. Por enquanto, estou lendo outro livro que comprei na Amazon, segindo seu link. Bjs!
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