Causo - Uma ida ao posto


Mais um dos causos que eu passo comigo mesma e adoro transformar em crônica! 
Vamos lá, esse é bem real!

Imagem: Rodrigo
Feriado. Parei com minha família em um posto de gasolina em pleno centro da cidade, aqui em Rio Preto. Eu no banco de trás, refletindo sobre nosso próximo ponto de parada quando meus olhos se depararam com uma realidade tão distante e ao mesmo tempo tão próxima de mim.

Bem a minha frente, embaixo de um pontilhão, nove homens se ajeitavam como se estivessem em casa num fim de tarde qualquer. Um deles estava deitado no chão, sem proteção alguma e completamente "apagado" enquanto os outros riam e conversavam bem ao lado.

Outro comia algo de uma vasilha de alumínio, com as mãos e no chão!
 
Eu fiquei pensando naquela situação. Como algumas pessoas podem deixar sua situação chegar aquele ponto? Como pode alguém viver como animal jogado embaixo de uma ponte sem nenhuma dignidade? Como pode um ser humano comer daquela forma agachado e com as mãos?  E a higiene? E o amor próprio?

Dentro do meu carro, minha família conversava animada sobre uma televisão nova que havíamos comprado e ninguém viu aquilo. Aquelas pessoas não deveriam estar ali debaixo daquele pontilhão enquanto eu tinha uma T.V. nova na sala sem precisar. A antiga ainda estava boa!

Senti-me cuspada por eles estarem ali. 

Eu que tenho vontade de faltar ao serviço porque odeio acordar cedo todo dia. 
Eu que trabalhei de manhã e de tarde e de noite fui a faculdade por 4 anos seguidos para me formar.
Eu que gastei todo meu salário em livros, xerox e mensalidades da faculdade por todos os 4 anos.
Eu que precisei esquecer que tinha um diploma de bióloga e passei a ser auxiliar administrativa.
Eu que sonho em ser escritora e que lancei meu livro independente, porque não tenho grana.
Eu que leio mais de 3 livros por mês e fiz a carteirinha da biblioteca municipal porque não posso pagar o preço que os livros valem.
Eu que trabalho 10 horas por dia e como de marmita...

Porque eu sou culpada? 

Eles estavam rindo e se divertindo ali apesar de tudo e no outro dia quem acordaria cedo pra trabalhar seria eu! Então em apenas 10 minutos senti pena deles, culpa por eles e raiva deles por fazer eu me sentir assim...
Eu faço a minha parte e eles morrem de rir debaixo de um pontilhão bem ao lado de um amigo jogado no chão frio como se fosse um monte de lixo.

Eles se deixaram cair naquela vida. Eu não tenho nada com isso!

Mas como se eles tivessem escutado meus pensamentos um daqueles homens se afastou do animado grupo e pegou um colchão bem fino e o estendeu no canto do pontilhão, pegou uma coberta grossa e estendeu em cima do colchão e chamou outro amigo.

Este largou o cigarro que estava fumando de lado e foi até aquele deitado no chão e os dois o levantaram com muito custo e o colocaram no colchão arrumado. Um deles ainda o cobriu com outro cobertor e...

Pronto! Eu já me sentia cuspada novamente! 


Agora vocês entendem porque meu blog chama VIDA COMPLICADA?

12 comentários

  1. É complicado mesmo tudo isso! Os vemos assim e passamos pela mistura de sentimentos. Uns lá pois são vagabundos mesmo, outros, não tiveram alternativas. E entre eles, solidariedade! beijos,chica

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  2. Oi Camila,
    Tenho pena de quem trabalha e não ganha o merece, mas não deste tipo de gente.
    Trabalho em um lugar que tem uma agência de colocação de mão de obra e há um tempo atrás o Governo do Estado lançou um programa para resgatar estas pessoas da rua. Pegavam o pessoal das ruas, levavam para o Albergue Noturno, davam um trato e depois encaminhavam para a agência do P.A.T. para que arrumassem empregos. Muitos empregadores foram receptivos, mas a verdade é que este pessoal bebe muito e está acostumado a não seguir nenhuma regra. Nenhum ficou no emprego nem ao menos uma semana!
    Infelizmente este tipo de problema existe em todos os países que já visitei, e a maioria dos países europeus são de primeiro mundo.
    Bjs e um ótimo início de semana para vc.

    GOSTO DISTO!

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  3. Oi, Camila! Boa parte dos moradores de rua sofre de problemas mentais ou vício em drogas. Os políticos fingem que ajudam. Tiram da rua, dão banho e arrumam uma ocupação. Só não fazem o que precisariam mesmo fazer: proporcionar um tratamento médico efetivo. Um tratamento decente custa caro e leva tempo. Os pacientes passam por várias recaídas antes de aprender a se controlar. Infelizmente, nem todos se recuperam. Mas é a única oportunidade verdadeira. Sem tratamento, eles voltam à rua e às drogas rapidinho. Beijos!

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  4. Enquanto - seja de que forma for - ainda nos sentirmos chocados pela miséria humana creio que ainda - todos - teremos "salvação"... Beijos, amore mio! Saudadonas mil!

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  5. Poxa ah, essa situação é bem complicada.
    Na frente da minha faculdade, no centro do Rio, o que não falta é situação como essa, realmente não sabemos muito bem o que fazer e se realmente um dia terá uma solução.
    A culpa não é deles estarem ali e muito menos sua, mas do Estado indeficiente que não consegue dar auxílio para essas pessoas poderem caminhar com as próprias pernas, ver quem é doente e quem apenas precisa de um empurrão. Infelizmente, como na charge que você colocou, existem inclusive pessoas com diplomas na rua, por falta de alguma assistência para resolver o seus problemas.
    Infelizmente, dar apenas um lugar para eles dormirem durante a noite é uma proposta muito ineficiente, capacitação e abertura de mercado de trabalho seria um começo muito melhor.... Enfim, esse é o mundo cheio de problemas e realmente complicado demais ;/
    Mas como o amigo ali em cima disse, enquanto "sentirmos chocados pela miséria humana creio que ainda - todos teremos "salvação'".

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  6. Pois é Camila, a gente se sente assim mesmo, ainda bem, isto quer dizer que ainda temos sensibilidade dentro de nós, mesmo sabendo de tudo isso que você falou... a situação é complicado mesmo... beijosss!!!

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  7. Sabe Camila, eu muitas vezes fico com pena mas, não me sinto culpada. Cada um de nós esta onde deve e precisa estar e além do mais nossas vidas são a somatória de nossas escolhas. Quem disse que eles são infelizes? São as escolhas que fizeram.
    Bjs e faça sempre boas escolhas e nunca se sinta culpada, ta bom?

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  8. Ótimo texto, Camila! A situação deles é muito complicada, mas penso que seja muito difícil nos responsabilizarmos por aquilo, é uma escolha, na maior parte das vezes...

    bjs

    www.digoporai.com

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  9. Olá Camila,

    A charge é ótima-rs.
    Tive que rir de você por ter se sentido culpada por uma situação que foge ao seu controle. Provavelmente, os 'cavalheiros' não abandonariam sua morada em baixo da ponte se você renunciasse à sua televisão nova, conquistada legitimamente e com o produto do trabalho. Muitos moradores de rua optaram por essa vida e gostam dela, embora possa parecem incrível aos nossos olhos. Outro dia vi uma reportagem onde se mostrava claramente que muitos preferiam morar nas ruas do que viverem em suas próprias casas, onde não se sentiam satisfeitos. Claro que há exceções e muitos estão nas ruas em virtude de doença mental ou falta de opção mesmo. Cabe aos órgãos governamentais, entidades sociais, ongs,etc, administrarem esse problema. Devemos ajudar sim, ms dentro de nossas limitações. O contato direto com esse pessoal é perigoso, pois muitos vivem drogados e entre eles pode haver bandidagem inserida.
    Pelo menos um deles mostrou que tem sentimentos ao procurar dar abrigo ao amigo.
    Não somos culpados pelas mazelas do mundo. Devemos nos solidarizar, sim, mas sem culpas.

    Beijossssssss.

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  10. Olá! Recebo muitas cusparadas também destes retratos sociais que a maioria não vê! abraços

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  11. oi Camis,

    as vezes fico tão chocada com tanta diferença,
    prefiro comentar pouco,
    pois isso me aborrece demais...

    beijinhos

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  12. Enquanto houver miséria, seja lá causada porque motivo for, é de haver indignação no homem de boa vontade. Por que se nem indignação, culpa, raiva, tristeza, a gente for capaz de sentir vendo isso que você viu, é porque acabamos de morrer.

    Esse banner tá incrível.
    Beijo, Camila.

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