Sexta-feira 13? Haha. Juro que não fiz de propósito com esse post. Acabei de ver.
No dia 19 de janeiro de 1809 nasceu Edgar Allan Poe que veio a se tornar um autor, poeta, editor e crítico literário que ficou mais conhecido por contar histórias que envolviam o mistério macabro e o suspense. Foi o primeiro escritor de contos americanos e também o primeiro a tentar ganhar a vida somente como escritor o que lhe rendeu uma vida financeira difícil.
Em Janeiro de 1845, Poe publicou seu poema The Raven (O
Corvo), foi um sucesso instantâneo.
![]() |
Essa foto é muito legal porque faz referência ao conto O CORVO e também à outro muito famoso chamado O GATO PRETO. |
No dia 3 de outubro de 1849, Poe foi encontrado nas ruas de
Baltimore, com roupas que não eram as suas, em estado de extremo delírio, e
levado para o Washington College Hospital, onde veio a morrer apenas quatro
dias depois. Poe nunca conseguiu estabelecer um discurso suficientemente
coerente, de modo a explicar como tinha chegado à situação na qual foi
encontrado. As suas últimas palavras teriam sido, de acordo com determinadas
fontes, "It's all over now: write Eddy is no more", (Está tudo acabado:
escrevam Eddy já não existe).
Excêntrico em ultimo grau, Edgar Allan Poe conquistou milhões
de leitores em décadas passadas e continua conquistando hoje em dia. Seus
contos parecem atuais e a maneira como escreve é hipnotizadora. Se não o
conhece ainda recomendo que faça.
![]() |
Geralmente tudo era sombrio e macabro ao seu redor (digo, em suas escritas) |
Bem já li vários contos,
todos excelentes, mas The Haven é com certeza o meu preferido pelo tom poético
que é dado a ele. Colocarei o poema abaixo cuja tradução foi feita por Fernando
Pessoa, mas colocarei também a versão original em inglês e quem domina a língua
leia dessa forma e se possível em voz alta. É uma delicia chegar às rimas
porque elas desenham um balanço tão perfeito que me faz ler o poema quase toda
semana!
Espero que gostem
tanto quanto eu...
O Corvo
(Edgar Allan Poe)
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos
de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a
meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em
vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Me incutia, urdia
estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me
desculpais;
Mas eu ia
adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus
umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que
ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na
minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum
cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e
lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro
de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de
nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha
tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual
se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes
usuais,
Aprendeu-as de algum
dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e
agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia
cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por
anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não
esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou
ave preta!
Fosse diabo ou
tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou
ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma
entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu
disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me
reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
Fernando Pessoa
(by Edgar Allan Poe,first published in 1845)
Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and
weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a
tapping,
As of someone gently rapping, rapping at my chamber door.
" 'Tis some visitor," I muttered, "tapping at
my chamber door;
Only this, and nothing more."
Ah, distinctly I remember, it was in the bleak December,
And each separate dying ember wrought its ghost upon the
floor.
Eagerly I wished the morrow; vainly I had sought to borrow
From my books surcease of sorrow, sorrow for the lost
Lenore,.
For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore,
Nameless here forevermore.
And the silken sad uncertain rustling of each purple curtain
Thrilled me---filled me with fantastic terrors never felt
before;
So that now, to still the beating of my heart, I stood
repeating,
" 'Tis some visitor entreating entrance at my chamber
door,
Some late visitor entreating entrance at my chamber door.
This it is, and nothing more."
Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer,
"Sir," said I, "or madam, truly your
forgiveness I implore;
But the fact is, I was napping, and so gently you came
rapping,
And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door,
That I scarce was sure I heard you." Here I opened wide
the door;
Darkness there, and nothing more.
Deep into the darkness peering, long I stood there, wondering,
fearing
Doubting, dreaming dreams no mortals ever dared to dream
before;
But the silence was unbroken, and the stillness gave no
token,
And the only word there spoken was the whispered word,
Lenore?, This I whispered, and an echo murmured back the
word,
"Lenore!" Merely this, and nothing more.
Back into the chamber turning, all my soul within me
burning,
Soon again I heard a tapping, something louder than before,
"Surely," said I, "surely, that is something
at my window lattice.
Let me see, then, what thereat is, and this mystery explore.
Let my heart be still a moment, and this mystery explore.
" 'Tis the wind, and nothing more."
Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
In there stepped a stately raven, of the saintly days of
yore.
Not the least obeisance made he; not a minute stopped or
stayed he;
But with mien of lord or lady, perched above my chamber
door.
Perched upon a bust of Pallas, just above my chamber door,
Perched, and sat, and nothing more.
Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,
By the grave and stern decorum of the countenance it wore,
"Though thy crest be shorn and shaven thou," I
said, "art sure no craven,
Ghastly, grim, and ancient raven, wandering from the nightly
shore.
Tell me what the lordly name is on the Night's Plutonian
shore."
Quoth the raven, "Nevermore."
Much I marvelled this ungainly fowl to hear discourse so
plainly,
Though its answer little meaning, little relevancy bore;
For we cannot help agreeing that no living human being
Ever yet was blessed with seeing bird above his chamber
door,
Bird or beast upon the sculptured bust above his chamber
door,
With such name as "Nevermore."
But the raven, sitting lonely on that placid bust, spoke
only
That one word, as if his soul in that one word he did
outpour.
Nothing further then he uttered; not a feather then he
fluttered;
Till I scarcely more than muttered,"Other friends have
flown before;
On the morrow he will leave me, as my hopes have flown
before."
Then the bird said,"Nevermore."
Startled at the stillness broken by reply so aptly spoken,
"Doubtless," said I, "what it utters is its
only stock and store,
Caught from some unhappy master, whom unmerciful disaster
Followed fast and followed faster, till his songs one burden
bore,
Till the dirges of his hope that melancholy burden bore
Of "Never---nevermore."
But the raven still beguiling all my fancy into smiling,
Straight I wheeled a cushioned seat in front of bird and
bust and door;
Then, upon the velvet sinking, I betook myself to linking
Fancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore,
What this grim, ungainly, ghastly, gaunt, and ominous bird
of yore
Meant in croaking, "Nevermore."
Thus I sat engaged in guessing, but no syllable expressing
To the fowl, whose fiery eyes now burned into my bosom's
core;
This and more I sat divining, with my head at ease reclining
On the cushion's velvet lining that the lamplight gloated
o'er,
But whose velvet violet lining with the lamplight gloating
o'er
She shall press, ah, nevermore!
Then, methought, the air grew denser, perfumed from an
unseen censer
Swung by seraphim whose footfalls tinkled on the tufted
floor.
"Wretch," I cried, "thy God hath lent thee --
by these angels he hath
Sent thee respite---respite and nepenthe from thy memories
of Lenore!
Quaff, O quaff this kind nepenthe, and forget this lost
Lenore!"
Quoth the raven, "Nevermore!"
"Prophet!" said I, "thing of evil!--prophet
still, if bird or devil!
Whether tempter sent, or whether tempest tossed thee here
ashore,
Desolate, yet all undaunted, on this desert land enchanted
On this home by horror haunted--tell me truly, I implore:
Is there--is there balm in Gilead?--tell me--tell me I
implore!"
Quoth the raven, "Nevermore."
"Prophet!" said I, "thing of evil--prophet
still, if bird or devil!
By that heaven that bends above us--by that God we both
adore
Tell this soul with sorrow laden, if, within the distant
Aidenn,
It shall clasp a sainted maiden, whom the angels name
Lenore
Clasp a rare and radiant maiden, whom the angels name
Lenore?
Quoth the raven, "Nevermore."
"Be that word our sign of parting, bird or fiend!"
I shrieked, upstarting
"Get thee back into the tempest and the Night's
Plutonian shore!
Leave no black plume as a token of that lie thy soul spoken!
Leave my loneliness unbroken! -- quit the bust above my
door!
Take thy beak from out my heart, and take thy form from off
my door!"
Quoth the raven, "Nevermore."
And the raven, never flitting, still is sitting, still is
sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming.
And the lamplight o'er him streaming throws his shadow on
the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the
floor
Shall be lifted--- nevermore!
Eu não poderia deixar de comentar este post.
ResponderExcluirQue eu me lembre, Poe foi o único autor de contos, que li. O gênero terror , me fascina muito. E o genial escritor também era bem romântico. Seus textos mostravam uma excelente fusão do macabro e do lirismo.
A minha última paixão é fã de Poe. Não conheço ninguém mais apaixonado por Poe do que ela, uma expert, na obra e na vida do genial escritor.
Entao agora conhece duas meu amigo!
ExcluirValeu, Camila! Ótima postagem! Acho que você já conhece, mas deixo aqui um link do Youtube com uma declamação musicada dO Corvo. http://www.youtube.com/watch?v=1166DHvSVW8 Trata-se de uma adaptação feita pelo grupo Omnia. Eles pulam algumas estrofes e mudam certas palavras, mas considero o resultado muito bom. Talvez seus visitantes gostem. Beijos!
ResponderExcluirNão, não conheço não Carla e agradeço muito pelo link, verei hj a noite. Beijos.
ExcluirOi Camila,
ResponderExcluirEu já tinha lido as "Estórias Extraordinárias" do Poe, e adorado, mas nunca tinha lido este poema. Sabia da existência dele, mas é a primeira vez que leio.
Me dei de presente uns minutinhos e, só não li em voz alta, pq estou no serviço.
Obrigada por este presente.
xoxo
Gosto disto!
Betty, sei que fala inglês então aconselho a ler nessa língua em voz alta quando chegar em casa! É simplesmente fantástico a junção das rimas!
ExcluirCamila. eu confesso que não é o meu tipo preferido de leitura. Lembro de ter lido alguns livros de suspense e até hoje me pego pensando em algumas cenas que criri na minha cabeça... hehehehhehee... e o pior: eu fico com medo!
ResponderExcluirMuito besta, né?!
beijosss
Ahh para com isso, tá perdendo grandes clássicos!
ExcluirPoe merece toda reverência! Pode ter sido coincidência, mas o post tem tudo a ver com o dia, rsrs.
ResponderExcluirCamila, obrigada pela dica do bonsai, sei que estou indo com muita sede ao pote querendo cultivar logo um florido, vou lembrar do seu conselho amiga.
Beijos
Kkkk juro que foi sem querer!
ExcluirUm mestre, sem duvida! O que seria de nós sem o impagavel Gato Preto!!
ResponderExcluirbjs
Estou em férias na praia.A conexão é de carroça,rssr .Não pude ler,deixo um beijo, vim agradecer o carinho!chica
ResponderExcluirAcho tão bacaninha esse seu jeito amoroso pela cultura, menina. Li o a tradução do poema, mas no inglês tive que dizer "passa", é minha praia não.
ResponderExcluirSuspense não é lá um caminho que eu domino (eu domino o que mesmo?), mas já li alguns. Remember Chrstine, o Carro Assassino? Sinistríssimo!
Beijoca, Camilouquinha por suspense.
Oi Camila,
ResponderExcluirNão conheço muito bem o trabalho dele,
foi bom conhecer um pouco mais.
Beijos