Obra que me fez lembrar demais outro livro do autor: "Sob a Redoma", tanto pela trama distópica e sobrenatural quanto na quantidade de personagens.
Sinopse: Pelo mundo todo, algo de estranho começa a acontecer quando as mulheres adormecem: elas são imediatamente envoltas em casulos. Se despertadas, se o casulo é rasgado e os corpos expostos, as mulheres se tornam bestiais, reagindo com fúria cega antes de voltar a dormir. Em poucos dias, quase cem por cento da população mundial feminina pegou no sono. Sozinhos e desesperados, os homens se dividem entre os que fariam de tudo para proteger as mulheres adormecidas e aqueles que querem aproveitar a crise para instaurar o caos. Grupos de homens formam as “Brigadas do Maçarico”,incendeiam em massa casulos, e em diversas partes do mundo guerras parecem prestes a eclodir. Mas na pequena cidade de Dooling as autoridades locais precisam lidar com o único caso de imunidade à doença do sono: Evie Black, uma mulher misteriosa com poderes inexplicáveis. Escrito por Stephen King e Owen King, Belas Adormecidas é um livro provocativo, dramático e corajoso, que aborda temas cada vez mais urgentes e relevantes.
Um livro do King que trás logo nas primeiras duas páginas uma "lista de personagens" é algo para prestar atenção. Não é brincadeira, tem divisão com títulos e tudo! Dito isso preciso ressaltar o ÚNICO ponto negativo que eu encontrei nessa trama:
É um pouco mais arrastada do que as outras obras dele. As primeiras 200 páginas é basicamente para apresentar os mais de 30 personagens ao leitor e também para inserir o problema na trama que é: As mulheres começaram a dormir e durante o sono um casulo se forma ao redor delas e elas simplesmente não acordam mais. Quando alguém tenta remover essa substância esquisita elas despertam extremamente violentas, agridem (e até matam) quem as incomodou e voltam a dormir.
"Um ruído baixo começou a soar de dentro da garganta dela, quase um ronco. As pálpebras estavam se movendo, tremendo com o movimento dos olhos por baixo da pele. Os lábios se abriram e fecharam. Um pouco de cuspe escorreu pelo canto da boca."
Mas a questão é que você pega essa ideia logo de cara e as coisas demoram um pouco para acontecer justamente porque o leitor ainda está perdido no meio do mar de personagens. Isso atrasou bastante a trama e deixou ainda mais evidente o que todo mundo sabe: O Stephen King enrola pra cacete! (rs)
Bem, passemos para os pontos positivos do livro que são só todos os outros milhões. Se você é fã do mestre já deve estar achando o que eu escrevi anteriormente bem redundante. Nós estamos muito acostumados com esse jeito dele e até gostamos, mesmo que isso traga um ponto negativo, ainda assim é tão bem escrito e desenvolvido que você engole as páginas mesmo assim.
Por conta dessa questão de não poderem dormir, as mulheres recorrem a todo tipo de estimulante para ficarem acordadas e isso inclui cocaína e outras drogas. Isso é angustiante. Uma delas chega a pensar que talvez seria melhor se render e dormir logo de uma vez, porque assim escaparia dos problemas que anda enfrentando acordada. #QuemNunca!
Não é um livro sanguinário. Não espere algo próximo de "O Cemitério" ou "IT". Como eu já disse ele está mais próximo de "Sob a Redoma" do que qualquer outra coisa. Há sim algumas cenas bastante pesadas e cheias de sangue, mas nada comparado ao que estamos acostumados a ler. Portanto nivele suas expectativas quanto a isso. Mesmo assim encontramos aqui referências à estupros e abusos psicológicos e sexuais, mesmo entre família. (Isso é constante nas obras dele).
"Jeanette fez o que ele mandou e, enquanto fazia, manteve o olhar na janela atrás dos ombros dele. Era uma técnica que ela começou a aprender aos onze anos, quando o padrasto a tocava, e aperfeiçoou com o falecido marido. Se encontrasse alguma coisa em que se concentrar, um ponto focal, quase dava para esquecer o corpo e fingir que estava agindo sozinho enquanto você visitava aquilo que de repente estava achando tão fascinante."
Tramas e subtramas são muito bem desenvolvidos e da metade do livro para frente você nem consulta mais o glossário de personagens. Cada um fica absolutamente distinto do outro o que acelera a leitura.
Nosso famoso escritor preferido é conhecido pela sua critica religiosa e aqui ele faz um trabalho diferente do que andou fazendo em toda sua carreira. Ele muda o foco e aposta no "feminismo". As mulheres adormecendo e deixando para trás homens perdidos e desesperados é algo muito bem explorado. Por conta disso podemos chegar a conclusão de que um mundo só de homens simplesmente acabaria uma hora ou outra. Sem falar que a violência cresceria em números astronômicos e não para por aí...
Uma das personagens chega a dizer que se fosse ao contrário, se os homens dormissem e as mulheres ficassem acordadas, em pouco tempo eles se organizariam, dariam a luz à novos meninos (banco de espermas, sacou) e os educaria diferente. Assim o mundo continuaria... MELHOR!
Tem como ser mais feminista do que isso?
Só quero falar mais uma coisinha da trama: Em determinadas partes do livro, o leitor acompanha o "Nosso Lugar" que é o mundo paralelo em que as mulheres adormecidas estão e isso é bem bizarro e interessante. Elas começam a se organizar e a distinção entre as duas realidades começa, de fato, a se distanciar É uma obra que te coloca para pensar sobre diversos aspectos das nossas relações. Te instiga à critica feminista e mostra um lado do King que muita mulher vai adorar.
"As mulheres começaram a chamar de “lugar novo” porque não era mais Dooling, ao menos não a Dooling que elas conheciam. Mais tarde, quando começaram a perceber que poderiam ficar ali por muito tempo, começaram a chamar de Nosso Lugar. O nome pegou."
Eu estou falando muito do Stephen King e não estou citando o filho Owen que escreveu esse livro junto dele, mas é porque eu simplesmente não consegui identificá-lo. Só vi Stephen ali e isso me alegra! Teremos um substituto para quando nosso mestre partir? Quem sabe?!
Agora um pequeno elogio à editora: A suma manteve a capa original do livro e isso agradou demais os fãs brasileiros e, ainda por cima, lançou aqui no país o livro apenas 20 dias depois do lançamento lá dos Estados Unidos. Um "VIVA" para a Suma. Muito amor por vocês!
Leia, mas se você for daqueles que detestam a enrolação do King, se prepare antes.
Palmas pro King! Abordar a condição feminina é especialmente importante agora, pois o destempero de poucas extremistas está levando pessoas mal-intencionadas a questionar o valor do feminismo como um todo. Valeu, Camila!
ResponderExcluirNossa até os comentários aqui são inteligentes!
ExcluirVou ter que concordar com vc.
ExcluirSao poucos comentários, mas substanciosos. Hahahaha
Obrigada!
O outro filho dele também já tem vários livros publicados. Acho que o Joe está na frente do Owen nesse quesito!
ResponderExcluirO Joe Hill emuito mais famoso mesmo, né? Mas eu acho que se o Owen continuar, será mais na linha do King. Tem uma pegada muito parecida. Iremos hahahaha
ExcluirTeremos King pra sempre.